terça-feira, outubro 10, 2006

Divagações

Longe vai o tempo em que, sem que sequer me apercebesse, brotavam do meu ser palavras e pensamentos que nunca soube de onde provinham... como se repousassem adormecidos num qualquer cantinho no meu interior e algo os despertasse.
Hoje em dia só de quando em vez me soam na alma palavras que conjugadas tomam um sentido... palavras estas que parecem suplicar que as grave num qualquer pedaço de papel para que descubra um pouco mais de mim.
Já não sou quem era no passado... as guerras que se decretam, no dia-a-dia, deixam alguns escombros e as vitórias ditam um regime de confiança... num vai e vem de experiências que se fossem refletidas num gráfico era só ver altos e baixos, voltas e reviravoltas : felicidade... desilusão... um sonho realizado... um azar... uma tristeza sem fim... força para seguir em frente... optimismo... mil e um sorrisos.
Hoje sei que sou um ser cheio de imperfeições, mas com muita força para se tornar cada vez melhor.
Com isto sei que perdi a comodidade da ignorância para me expor ao nem sempre fácil modo de viver, passo a passo, com a maior consciência possível.
Agora sei que a cada minuto que passa tudo nos leva ao encontro da morte, que se torna momento a momento mais próxima. Para uns mais próxima do que para outros, mas dado à sua incertidão de nada vale perder o tempo que seja a tentar percebê-la... ou a ganhar forças para lhe fugir. Apenas vale a pena viver cada momento com a maior intensidade possível. Ganhar na "inevitável" morte toda a força para viver e amar a vida...
O tempo é filtrado pelo nosso ser e sentido em função do seu ritmo. Existem momentos em que tudo parece correr... e o tempo se parece com água que nos escorre por entre os dedos! E existem outros em que tudo parece calmo inerte... como se o próprio relógio do tempo tivesse parado simplesmente!
Mas o que sinto dentro de mim é totalmente distinto do que sente todo o outro ser... cada um de nós vive embevecido num mundo próprio, através do qual vislumbra todos os outros mundos.
A vida sem que nos apercebamos leva-nos ao encontro dos nossos sonhos e realizações que nem imaginavamos poder alcançar... mas também de pesadelos e medos... aqueles que temiamos e os que nem nos haviamos lembrado de temer. Para nos levar mais longe... talvez!

É tudo tão complexo e apesar de por vezes parecer que tudo pára, dando-nos tempo para reflectir e recuperar... é mera ilusão. Tudo à nossa volta e dentro de nós gira e muda constantemente, mesmo que nos tentemos isolar de tudo e de todos. Mesmo que fujamos do mundo e nos encerremos num quarto sem mais sair dele. Daí a vida ser tão difícil e complexa!
Somente a vida dos outros nos parece fácil, porque não a vivemos nem a sentimos na pele.
Gandhi disse outrora que é um previlégio viver uma vida difícil. Só consigo atribuir sabedoria a esta afirmação se esquecer as fraquezas inerentes ao ser humano e assumir que é realmente a dor e a adversidade que trazem maturidade ao homem. Não é por nada que a sabedoria se diz residir no bom senso.
Por vezes tudo parece demais... como se bastasse um mero rombo para afundar o nosso navio. Como outras nos sentimos capazes de navegar até onde quer que seja para travar a maior das batalhas e voltar sem um único arranhão.

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